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Papai é Gay!!!
Papai é Gay!!!
por Joao Bosco Filho
Definido como "animal racional, mamífero e bípede, que ocupa o primeiro lugar na escala zoológica; pessoa do sexo masculino, que atingiu a virilidade" (Tersoriol s.d.): o homem. Discorrendo sobre o assunto, Badinter (1993) afirma que o homem vive uma das suas maiores crises de identidade, pois a sociedade patriarcal e conservadora o colocou como único e modelo a ser seguido pelos demais membros sociais, impondo-lhe uma forma de vida que foge as suas próprias condições humanas de existência. Frases como "homem não chora", "é agressivo por natureza", "é um traidor nato", entre outras, são questionadas e levam um grande contingente masculino a buscar explicações para tantas mudanças no seu espaço social.
Entendendo que o homem é um ser construído histórico e socialmente, é importante ressaltarmos que a atual crise masculina é fruto das várias transformações históricas, merecendo destaque as várias lutas e conquistas femininas que vem redefinindo o papel social da mulher e ao mesmo tempo exigindo que o homem faça o mesmo, bem como, o profundo processo de mudanças ocorridas com o advento da modernidade, que ao afirmar a intrínseca relação da sociedade atual com a ciência, a tecnologia, o materialismo, a competição e a globalização, ou seja, com o progresso científico, impõe "uma ênfase no presente e no futuro com um crescente descaso pelo passado, pela tradição, pela religião... resultando em perda dos modelos e paradigmas tradicionais, sem haver segurança nos dias futuros." (Boechat, 1997)
Observando historicamente a sexualidade humana, com ênfase no processo de formação masculina percebemos que a masculinidade é concebida a partir da capacidade produtiva, pela qual o homem responde como provedor material e financeiro do grupo no qual está inserido. Portanto a simples posse do cromossomo Y ou dos órgãos sexuais masculino não são suficientes para determinar o 'verdadeiro homem', para isto ele deve obedecer as normas ditadas pelo "manual do macho", no qual ser homem implica a superação de todos os ritos de passagem, que geralmente compreendem a demonstração de poder através da força física, da proteção de seus dependentes, da inteligência, do trabalho forçado entre outros.
Poderíamos afirmar tranqüilamente que na nossa sociedade atual, com sua enorme complexidade, continua mantendo como pilares estes quatro núcleos arquetípicos básicos: o guerreiro, o xamã, o que vai em busca do sexo oposto visando o Coniunctio, e finalmente, o chefe ou rei que integra as partes num todo harmônico. (Boechat, 1997)
Entre as várias formas de demonstração de poder aos quais o 'pré-homem' é submetido, destaca-se a conquista do status social, via de regra conquistado pela profissão que desempenha e pela condição financeira que alcança; outro fator e a constituição de uma família, que apesar de não mais ser caracterizada como tradicional, pai e mãe unidos pelos laços do matrimônio até que a morte os separe, ainda se forma pela presença de um pai provedor financeiramente. Não esqueçamos que neste modelo de família atua uma mãe que, além de dona de casa, assume tarefas no espaço público e é a maior responsável pela reprodução, momento no qual o homem exibe para os seus companheiros a sua maior façanha viril, a perpetuação da espécie.
Ainda como importante elemento de consolidação masculina, está a sua posição heterossexual, onde o padrão de normalidade estabelece que "a identidade masculina está associada ao fato de possuir, tomar, penetrar, dominar e se afirmar, se necessário pela força" (Badinter, 1993). A homossexualidade, compreendida enquanto dominação do homem pelo próprio homem, se constitui em um modelo anormal de comportamento. Neste cenário, ser homem também passa pela necessidade de mostrar que não se é homossexual.
A crescente conquista do espaço social pelas mulheres acentua ainda mais a crise masculina, uma vez que, ao ocupar esferas sociais, antes exclusivamente masculinas, expõe uma ruptura no modelo hegemônico do poder do macho, levando-o a uma busca incessante pela redefinição do seu papel viril.
Nesse contexto de conflito masculino e conquistas femininas, várias instituições sociais são transformadas, entre estas a família, que ao perder o seu caráter tradicional, assume um modelo denominado de moderno, no qual "a família hierárquica com papéis bem definidos quanto a gênero e geração" é substituída por "uma família igualitária, onde os papéis e atribuições de gênero e geração estariam com seus contornos cada vez mais diluídos" (Vaitsman, 1994). É nesse mesmo momento que se percebe o aumento do número de pais separados, mães solteiras, bem como a presença de casais homossexuais, que ao desenvolverem suas atividades profissionais, assumem a responsabilidade de criar filhos fora do padrão tradicional da família mononuclear.
A família gay é uma modalidade que ora ganha maior visibilidade. O espaço aberto pelas novas formas de constituição familiar, as várias formas de produção independente, bem como a possibilidade de adoção por parte de pessoas solteiras expõe arestas para que homens e mulheres homossexuais assumam a maternidade e a paternidade de acordo com os seus ideais. Essa forma de união torna-se mais polêmica quando o modelo tradicional familiar questiona quais os princípios morais que serão utilizados para educar a criança membro dessa relação. Como ela irá compreender sua família constituída por dois homens ou duas mulheres, quando a grande maioria encontra-se representada por um homem e uma mulher? As respostas a esses questionamentos e vários outros existentes começam a ser expressas a partir das experiências bem sucedidas, onde casais gays educam suas crianças e lhes proporcionam um ambiente tão saudável quanto ou melhor do que os oferecidos por vários casais heterossexuais. Quanto aos aspectos teóricos que embasam esta problemática, observam-se discussões, como por exemplo a do psicanalista Acyr Maia, autor do livro Psicologia e Homossexualidade, que afirma que nada impede que casais homossexuais eduquem com sucesso uma criança, pois "de acordo com a psicanálise, a função materna e paterna são exercidas pela linguagem. (...) Mas qualquer pessoa, independente do sexo biológico pode suprir essa carência" (Maia apud Mazzaro, 1998). Entretanto, o maior problema a ser enfrentado por essas crianças constitui-se na agressão social, já que ao serem elementos constituintes de um modelo familiar que foge ao padrão de 'normalidade' servirão de alvo para piadas e brincadeiras desagradáveis por parte daqueles que se consideram normais.
Existem também as famílias que apresentam um dos seus membros optantes pela homossexualidade, fato registrado em muitos casos devido a forte pressão social imposta ao indivíduo para que ele se inclua no padrão de normalidade masculino ou feminino, onde o homem representa o papel de pai e a mulher contracena com o papel de mãe, ser submisso e responsável pelo cuidado do lar e do 'marido'.
A forte coerção feita ao homem para que este jamais fuja as normas ditadas pelo "manual do macho", obriga a um número elevado de homens a construir situações que camuflem a sua verdadeira orientação sexual. As uniões heterossexuais que evoluem para a paternidade, são exemplos clássicos, pois ao cumprir estas duas regras da masculinidade, o homem atinge um patamar no qual seu potencial viril não poderá ser questionado e, se for, o mesmo apresenta provas concretas de sua eficiência masculina, sendo estas, a mulher e o filho fruto dessa relação.
Entre todos os povos a preocupação em deixar descendentes é um sinal de virilidade, e em muitas culturas o número de descendentes é visto como sinal de fertilidade e, portanto, de masculinidade. (Boechat, 1997).
Ao expor uma maneira de ser e de viver diferente da que realmente deseja, esse homem passa a viver sua sexualidade na clandestinidade, satisfazendo suas fantasias e desejos sexuais carregados por um complexo de culpa e traição, e envoltos em um mundo de mistérios, os quais jamais devem ser revelados ao mundo do macho, pois essa revelação acarretaria na exclusão deste homem do círculo de normalidade, bem como levaria seus descendentes a difícil afirmação "papai é gay".
Sabemos que fugir ao padrão de normalidade imposto pela sociedade é uma tarefa árdua e que requer determinação e coragem, uma vez que toda fuga traz como consequência atos punitivos, e nesse caso a punição vem sob a forma de preconceito, da exclusão e da marginalidade de todas as pessoas que assim se comportam.
Dessa forma, assumir a homossexualidade nesse universo machista e conservador é percorrer um caminho de pedras e barreiras, transponíveis somente a partir de muitas lutas pela busca da cidadania plena, na qual a orientação sexual não represente motivo de exclusão dos indivíduos dentro do processo da dinâmica social.
Entendendo que o homem é um ser construído histórico e socialmente, é importante ressaltarmos que a atual crise masculina é fruto das várias transformações históricas, merecendo destaque as várias lutas e conquistas femininas que vem redefinindo o papel social da mulher e ao mesmo tempo exigindo que o homem faça o mesmo, bem como, o profundo processo de mudanças ocorridas com o advento da modernidade, que ao afirmar a intrínseca relação da sociedade atual com a ciência, a tecnologia, o materialismo, a competição e a globalização, ou seja, com o progresso científico, impõe "uma ênfase no presente e no futuro com um crescente descaso pelo passado, pela tradição, pela religião... resultando em perda dos modelos e paradigmas tradicionais, sem haver segurança nos dias futuros." (Boechat, 1997)
Observando historicamente a sexualidade humana, com ênfase no processo de formação masculina percebemos que a masculinidade é concebida a partir da capacidade produtiva, pela qual o homem responde como provedor material e financeiro do grupo no qual está inserido. Portanto a simples posse do cromossomo Y ou dos órgãos sexuais masculino não são suficientes para determinar o 'verdadeiro homem', para isto ele deve obedecer as normas ditadas pelo "manual do macho", no qual ser homem implica a superação de todos os ritos de passagem, que geralmente compreendem a demonstração de poder através da força física, da proteção de seus dependentes, da inteligência, do trabalho forçado entre outros.
Poderíamos afirmar tranqüilamente que na nossa sociedade atual, com sua enorme complexidade, continua mantendo como pilares estes quatro núcleos arquetípicos básicos: o guerreiro, o xamã, o que vai em busca do sexo oposto visando o Coniunctio, e finalmente, o chefe ou rei que integra as partes num todo harmônico. (Boechat, 1997)
Entre as várias formas de demonstração de poder aos quais o 'pré-homem' é submetido, destaca-se a conquista do status social, via de regra conquistado pela profissão que desempenha e pela condição financeira que alcança; outro fator e a constituição de uma família, que apesar de não mais ser caracterizada como tradicional, pai e mãe unidos pelos laços do matrimônio até que a morte os separe, ainda se forma pela presença de um pai provedor financeiramente. Não esqueçamos que neste modelo de família atua uma mãe que, além de dona de casa, assume tarefas no espaço público e é a maior responsável pela reprodução, momento no qual o homem exibe para os seus companheiros a sua maior façanha viril, a perpetuação da espécie.
Ainda como importante elemento de consolidação masculina, está a sua posição heterossexual, onde o padrão de normalidade estabelece que "a identidade masculina está associada ao fato de possuir, tomar, penetrar, dominar e se afirmar, se necessário pela força" (Badinter, 1993). A homossexualidade, compreendida enquanto dominação do homem pelo próprio homem, se constitui em um modelo anormal de comportamento. Neste cenário, ser homem também passa pela necessidade de mostrar que não se é homossexual.
A crescente conquista do espaço social pelas mulheres acentua ainda mais a crise masculina, uma vez que, ao ocupar esferas sociais, antes exclusivamente masculinas, expõe uma ruptura no modelo hegemônico do poder do macho, levando-o a uma busca incessante pela redefinição do seu papel viril.
Nesse contexto de conflito masculino e conquistas femininas, várias instituições sociais são transformadas, entre estas a família, que ao perder o seu caráter tradicional, assume um modelo denominado de moderno, no qual "a família hierárquica com papéis bem definidos quanto a gênero e geração" é substituída por "uma família igualitária, onde os papéis e atribuições de gênero e geração estariam com seus contornos cada vez mais diluídos" (Vaitsman, 1994). É nesse mesmo momento que se percebe o aumento do número de pais separados, mães solteiras, bem como a presença de casais homossexuais, que ao desenvolverem suas atividades profissionais, assumem a responsabilidade de criar filhos fora do padrão tradicional da família mononuclear.
A família gay é uma modalidade que ora ganha maior visibilidade. O espaço aberto pelas novas formas de constituição familiar, as várias formas de produção independente, bem como a possibilidade de adoção por parte de pessoas solteiras expõe arestas para que homens e mulheres homossexuais assumam a maternidade e a paternidade de acordo com os seus ideais. Essa forma de união torna-se mais polêmica quando o modelo tradicional familiar questiona quais os princípios morais que serão utilizados para educar a criança membro dessa relação. Como ela irá compreender sua família constituída por dois homens ou duas mulheres, quando a grande maioria encontra-se representada por um homem e uma mulher? As respostas a esses questionamentos e vários outros existentes começam a ser expressas a partir das experiências bem sucedidas, onde casais gays educam suas crianças e lhes proporcionam um ambiente tão saudável quanto ou melhor do que os oferecidos por vários casais heterossexuais. Quanto aos aspectos teóricos que embasam esta problemática, observam-se discussões, como por exemplo a do psicanalista Acyr Maia, autor do livro Psicologia e Homossexualidade, que afirma que nada impede que casais homossexuais eduquem com sucesso uma criança, pois "de acordo com a psicanálise, a função materna e paterna são exercidas pela linguagem. (...) Mas qualquer pessoa, independente do sexo biológico pode suprir essa carência" (Maia apud Mazzaro, 1998). Entretanto, o maior problema a ser enfrentado por essas crianças constitui-se na agressão social, já que ao serem elementos constituintes de um modelo familiar que foge ao padrão de 'normalidade' servirão de alvo para piadas e brincadeiras desagradáveis por parte daqueles que se consideram normais.
Existem também as famílias que apresentam um dos seus membros optantes pela homossexualidade, fato registrado em muitos casos devido a forte pressão social imposta ao indivíduo para que ele se inclua no padrão de normalidade masculino ou feminino, onde o homem representa o papel de pai e a mulher contracena com o papel de mãe, ser submisso e responsável pelo cuidado do lar e do 'marido'.
A forte coerção feita ao homem para que este jamais fuja as normas ditadas pelo "manual do macho", obriga a um número elevado de homens a construir situações que camuflem a sua verdadeira orientação sexual. As uniões heterossexuais que evoluem para a paternidade, são exemplos clássicos, pois ao cumprir estas duas regras da masculinidade, o homem atinge um patamar no qual seu potencial viril não poderá ser questionado e, se for, o mesmo apresenta provas concretas de sua eficiência masculina, sendo estas, a mulher e o filho fruto dessa relação.
Entre todos os povos a preocupação em deixar descendentes é um sinal de virilidade, e em muitas culturas o número de descendentes é visto como sinal de fertilidade e, portanto, de masculinidade. (Boechat, 1997).
Ao expor uma maneira de ser e de viver diferente da que realmente deseja, esse homem passa a viver sua sexualidade na clandestinidade, satisfazendo suas fantasias e desejos sexuais carregados por um complexo de culpa e traição, e envoltos em um mundo de mistérios, os quais jamais devem ser revelados ao mundo do macho, pois essa revelação acarretaria na exclusão deste homem do círculo de normalidade, bem como levaria seus descendentes a difícil afirmação "papai é gay".
Sabemos que fugir ao padrão de normalidade imposto pela sociedade é uma tarefa árdua e que requer determinação e coragem, uma vez que toda fuga traz como consequência atos punitivos, e nesse caso a punição vem sob a forma de preconceito, da exclusão e da marginalidade de todas as pessoas que assim se comportam.
Dessa forma, assumir a homossexualidade nesse universo machista e conservador é percorrer um caminho de pedras e barreiras, transponíveis somente a partir de muitas lutas pela busca da cidadania plena, na qual a orientação sexual não represente motivo de exclusão dos indivíduos dentro do processo da dinâmica social.
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